A importância dos recentes avanços científicos contra o envelhecimento de óvulos 30 mar 2022

A importância dos recentes avanços científicos contra o envelhecimento de óvulos

É crescente a relevância por trás dos recentes estudos que têm logrado êxito ao tornar possível a reversão ou o retardamento do envelhecimento de óvulos mediante técnicas que, embora incipientes, representam uma grande oportunidade de avanço, aperfeiçoamento e investimento nos próximos anos.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, país este que tem ganhado cada vez mais notoriedade no campo da pesquisa e desenvolvimento, identificaram que o envelhecimento dos óvulos, ocasionado pela gradual danificação com o passar dos anos de seu material genético – os gametas –, pode ser combatido por antivirais inibidores da transcriptase reversa, utilizados na prevenção de danos ao DNA em infecções virais, em conjunto com o antiviral AZT, utilizado no tratamento da Aids[1].

Em fase de experimento, a ação antiviral gerou um resultado positivo ao conseguir resgatar parcialmente os gametas envelhecidos, danificados, e elevar sua taxa de maturação em até 28,6%, trazendo a expectativa que, dentro de uma década, se possa aumentar a fertilidade entre mulheres mais velhas, sobretudo aquelas que, após os 40 anos, encontram dificuldades para engravidar.

Trata-se de um achado incipiente, que ainda será submetido à avaliação complementar, inclusive no que se refere a capacidade final do procedimento de restaurar a fertilidade dos óvulos.

Uma vez este alcance o estágio de um estudo de Fase III, uma série de questões legais e éticas geralmente associadas à pesquisa clínica, que variam desde questões de má-conduta científica até a melhor forma de garantir a segurança dos participantes de um estudo, também devem ser ponderadas, pois as atividades realizadas no curso de um ensaio clínico estão sujeitos a regulamentação por várias autoridades governamentais. Isso se baseia no fato de que o progresso de um ensaio clínico desde o desenho inicial até o encerramento implica uma série de questões legais e operacionais. Muitos deles surgem antes mesmo do início do estudo e incluem, por exemplo, a elaboração do protocolo do ensaio clínico para atender às metas do patrocinador e requisitos regulamentares rígidos do setor, obter as aprovações regulatórias, envolver ORPCs, centros, investigadores e também garantir o financiamento para o estudo.

A preocupação com a conduta ética em um ensaio de Fase III também é fundamental na rotina das operações, exigindo das partes envolvidas não apenas conhecimento sobre as normas, mas também familiaridade com os objetivos do estudo.

Prenunciando ainda a inquestionável existência de vários obstáculos jurídicos e clínicos a serem superados nesta matéria, o estudo foi recebido com muito boas perspectivas de aperfeiçoamento e aplicação.

Sabe-se que o desenvolvimento e a disseminação dos métodos contraceptivos, crises econômicas e o fortalecimento do poder de escolha feminino, aliado à expressiva presença das mulheres no mercado de trabalho do século XXI, são alguns dos fatores responsáveis pela queda mundial de fecundidade que, nesta década, vem ganhando particular aceleração, sobretudo em meio às dificuldades e restrições impostas pela pandemia do Covid-19.

Segundo estudos da Universidade de Washington, a previsão para 2100 é que mais de 20 países terão sua população reduzida pela metade, sendo que 93,8% dos países analisados terão uma taxa de fecundidade menor que 2,1 filhos por mulher[2]. Tais dados vão de encontro às estimativas do IBGE, que em meados de novembro de 2021 registrou a maior queda no número de nascimentos no Brasil desde 2016, provocada pela acentuação do cenário pandêmico nacional[3].

Diante de tal declínio expressivo das taxas de natalidade nos últimos anos, as novas técnicas que permitem reverter ou retardar o envelhecimento de óvulos surgem como alternativas inquestionavelmente oportunas às mulheres que, mesmo com o passar dos anos, ainda optarem pela maternidade, e como ferramentas hábeis para solucionar, ou ao menos reduzir, a problemática por trás do envelhecimento de óvulos e, sobretudo, do preocupante declínio populacional em nível global.

 

[1] The Times of Israel. “In breakthrough, Jerusalem lab says older human eggs can be made young again”. Publicado em 8 de março de 2022. Disponível online em < https://www.timesofisrael.com/in-breakthrough-jerusalem-lab-says-older-human-eggs-can-be-made-young-again/ >

[2] The Lancet. “Fertility, mortality, migration, and population scenarios for 195 countries and territories from 2017 to 2100: a forecasting analysis for the Global Burden of Disease Study”. Publicado em 14 de julho de 2020. Disponível online em < https://www.thelancet.com/article/S0140-6736(20)30677-2/fulltext >

[3] Valor Econômico. “Brasil registra maior queda de nascimentos desde 2016, ano da epidemia de zika, diz IBGE”. Publicado em 18 de novembro de 2021. Disponível online em

< https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/11/18/brasil-registra-maior-queda-de-nascimentos-desde-2016-ano-da-epidemia-de-zika-diz-ibge.ghtml >

 

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