Máquina de Vendas fecha acordo com indústria e busca CEO
Por Adriana Mattos e Cynthia Malta | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico
A Máquina de Vendas, dona da rede Ricardo Eletro, conclui nesta semana a sua reestruturação. A Starboard, gestora de private equity que ficará com 72,5% da varejista, está buscando um novo presidente para comandar a rede de 650 lojas. Acordo negociado com 20 fornecedores, que respondem por 78% da dívida de R$ 1,5 bilhão para com a indústria de eletroeletrônicos, abre a possibilidade de as lojas voltarem a receber produtos.
O acordo libera “crédito novo”, junto aos fornecedores, de R$ 800 milhões, equivalente a três meses de capital de giro, disse ontem ao Valor Pedro Bianchi, sócio da Starboard. Esta negociação, que durou quatro meses e não prevê seguro ao crédito novo, faz parte de um plano de recuperação extrajudicial a ser encaminhando ao Fórum Central de São Paulo ainda nesta semana, disse Pedro Magalhães, diretor financeiro da Máquina.
O plano prevê, basicamente, dois grupos de credores: os fornecedores que voltaram a financiar a venda de produtos à Máquina e aqueles que não concordaram. O primeiro grupo, formados por 20 fabricantes de eletroeletrônicos, não terá desconto em sua dívida e vai receber pelo modelo “pay if you can” (pague se você puder) ou “cash sweep”, disse Bianchi. Funciona assim: a Máquina está prevendo que em maio do ano que vem terá um caixa de R$ 350 milhões. O valor acima disso será usado para começar a pagar a dívida dos 20 fornecedores. Whirlpool, Electrolux, Semp, Samsung, Britania e Mondial estão nesse grupo. A Máquina deve a 250 fornecedores.
O credor que não concordar com esse modelo, terá 60% de desconto em sua dívida e só terá seu débito quitado depois que o primeiro grupo for pago. Este piso, de R$ 350 milhões, será atualizado a cada ano. E a taxa de juros será de 2,75% ao ano.
“Quando a indústria fecha este acordo ela está escolhendo ter de volta ao ‘jogo’ um canal de vendas grande, para não ficar na mão só de Via Varejo e Magazine Luiza “, diz Bianchi. “Tem uma hora em que a situação só se resolve se todo mundo acha que vai perder, aí a coisa avança e todo mundo ganha”, observou Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro e atual presidente da Máquina.
Após a homologação do acordo, estimada em três meses, a Starboard assume o controle da Máquina. A gestora ficará com 72,5% da rede. Será feito um aporte de R$ 250 milhões por meio de um fundo de investimento da Starboard. Entre os investidores deste fundo, que já levantou R$ 1,3 bilhão, está a própria Starboard
Com a entrada da Starboard, todos os sócios da Máquina serão diluídos. Ricardo Nunes, Luiz Carlos Batista e a família Salfer ficam com os 27,5% restantes. Desta fatia, Nunes tem 55%, Batista 43% e a família Salfer, 2%. O comando vai mudar. Haverá um novo presidente, que já está sendo procurado no mercado pela Starboard. Nunes deve trabalhar junto ao novo presidente com foco em vendas e assuntos institucionais Será criado o cargo de diretor de reestruturação e seu ocupante será indicado pelo novo controlador. O conselho de administração terá Nunes, Batista e a Starboard. Esta terá três cadeiras.
O plano de Bianchi é permanecer na Máquina por até cinco anos, mas vai tentar sair em 3 a 4 anos. Ele prevê duas possibilidades para a varejista nos próximos anos: abrir o capital na bolsa ou negociar uma fusão com uma varejista que já esteja no mercado.
Além dos R$ 250 milhões da Starboard e dos R$ 800 milhões em novas linhas dos fornecedores, a Máquina espera levantar mais R$ 300 milhões em operações de factoring, fundos de investimentos em direitos creditórios (FDICs) e com bancos de médio porte.
Com os três maiores bancos do país – Bradesco, Itaú e Santander – está mantido acordo renegociado no fim de 2017. Na época, foi criada uma nova empresa, a MV Participações, de Nunes e Batista. A MV emitiu R$ 1,5 bilhão em debêntures compradas pelos três bancos, que já eram credores da Máquina. Esses recursos saíram da MV e viraram aporte na Ricardo Eletro. Com isso, a dívida foi “transferida” da Máquina à MV.
Com essa operação, caso Nunes e Batista sejam de alguma forma remunerados – na venda da empresa, por exemplo – os bancos recebem o dinheiro que entrar.
A situação da Máquina de Vendas ainda é difícil – sua crise já dura dois anos e meio. Entre 2014 e 2017, a receita caiu cerca de 40%. Em 2014, chegou a quase R$ 10 bilhões, com 1,2 mil lojas e 25 mil funcionários. No ano passado, faturou R$ 6 bilhões, com 650 lojas e 13 mil empregados. O prejuízo foi de R$ 580 milhões no ano passado. Neste ano deve cair para R$ 450 milhões, calcula Magalhães. De janeiro a junho deste ano, as vendas somaram R$ 2,4 bilhões, com perdas de R$ 280 milhões. No mesmo período de 2017, o prejuízo foi de R$ 340 milhões.
A Starboard contou com a assessoria do escritório de advocacia Campos Mello. A Máquina foi assessorada por TWK Advogados.
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