Varejistas dão desconto de até 30% na busca de turbinar vendas on-line
Segundo especialista, empresas com foco nas classes C e D vão sofrer com desemprego
Fonte: Valor Econômico
Autor: Juliana Schincariol
Com o comércio fechado em praças como Rio e São Paulo, varejistas de moda concentram esforços nas vendas on-line para evitar perdas ainda maiores por causa da quarentena motivada pelo avanço do novo coronavírus no Brasil. Marcas com sede no Rio, como a calçadista Sonho dos Pés, e empresas de moda como o grupo Soma – dono das marcas de roupas A.Brand, Foxton e Farm – estão oferecendo descontos, estenderam o prazo para trocas e aumentaram as comissões de seus vendedores.
Os funcionários do comércio em geral recebem um salário-base que é complementado com as comissões pelas vendas. Assim, para que possam mantê-las, as empresas disponibilizaram códigos de vendedores para os clientes incluírem no momento da compra pela internet. Os descontos vão de 10% a 30%,inclusive em peças de novas coleções, cujos lançamentos costumam começar justamente a partir de março. A cobrança de frete também foi abolida no momento.
Na Foxton, rede de moda masculina do grupo Soma, vendas nos últimos dias foram dez vezes maiores do que o orçado para o e-commerce, diz o diretor-executivo da marca, Léo Ferreira. “As boas vendas do e-commerce nesse momento não garantem o mesmo resultado orçado, mas com certeza ajudam muito”, afirma. O primeiro bimestre teve vendas bastante fortes, e o indicador de “vendas mesmas lojas” (abertas há mais de 12 meses) estava acima de 20%. “Pelo projetado até o momento, fecharemos o primeiro trimestre com uma queda pequena considerando todo esse cenário”, completa.
Na Sonho dos Pés, foi lançado um canal de entregas em domicílio para atender uma demanda que vá além da loja on-line. E as compras poderão ser parceladas em até dez vezes.
Na A.Brand, de roupas femininas, a orientação é que os vendedores entrem em contato com as clientes via WhatsApp e mantenham a comunicação. E também estão incentivando os funcionários a alimentarem seus perfis pessoais do Instagram com conteúdos sobre as lojas. A Enjoy, além dos descontos e prazo de devolução de peças de até 45 dias, oferece comissões dobradas para as vendedoras. Ações parecidas ocorrem também na joalheria Antonio Bernardo.
Enquanto tentam emplacar venda diante de incertezas econômicas, as empresas começam a procurar advogados para entender quais são as ferramentas jurídicas para poderem sobreviver ao momento atual, que vão desde renegociação com bancos até um pedido de recuperação judicial, em último caso. “Algumas companhias que estavam com o índice de alavancagem normal nas últimas semanas, agora podem passar do limite viável. Pode haver dificuldade de pagar bancos e salários”, diz o advogado Marcus Bitencourt, sócio do Campos Mello Advogados.
Todo o varejo está se organizando, segundo ele. As vendas on-line se concentram nas classes A e B. “Consumidores das classes C e D compram e levam a mercadoria na hora e as empresas focadas neles vão sofrer com desemprego.” A preservação de caixa no momento é essencial diante de incertezas, lembrou.
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