VITÓRIA DE BIDEN ELEVA EXIGÊNCIAS ESG, MAS BRASIL TEM OPORTUNIDADES 12 nov 2020

VITÓRIA DE BIDEN ELEVA EXIGÊNCIAS ESG, MAS BRASIL TEM OPORTUNIDADES

Por Matheus Piovesana

São Paulo, 11/11/2020 – A vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais americanas eleva o sarrafo de exigências em ESG feitas por investidores estrangeiros, o que é um ponto de atenção para as companhias brasileiras. Ao mesmo tempo, porém, o País concentra oportunidades em segmentos como o de energia renovável que, em um governo do democrata, podem atrair recursos. A análise é de Marcus Bitencourt, sócio e co-head de direito societário e de mercado de capitais do Campos Mello Advogados (CMA).

“As companhias têm de prezar pelo meio ambiente, ter governança e no social, ter diversidade. Pautas que eram dos políticos entram nas corporações”, explica, em entrevista ao Broadcast. “Mesmo com o Biden, acho difícil os Estados Unidos olharem para o Brasil como não-amigo. É um país importante, e temos leilões de energia, projetos de energia renovável. O Brasil tem diversas oportunidades.”

Bitencourt, que atuou em operações como a reorganização da OSX e os aportes do SoftBank na 99, destaca que tanto para investimentos de portfólio quanto para alocações diretas, há dois fatores além das eleições americanas que seguem trazendo instabilidade: a continuidade da pandemia da covid-19, com novas ondas de infecção na Europa, e as questões estruturais brasileiras.

No primeiro caso, ele ressalta que muitas empresas têm segurado ofertas de ações, por exemplo, justamente pela imprevisibilidade trazida pela pandemia. “Pelas conversas que eu tive, a visão tem sido a seguinte: a eleição americana tem data para acabar, mas a pandemia, não. Sem dúvida, isso é o que mais assusta.”

Já no segundo ponto, o especialista comenta que há investidores estrangeiros esperando um “sinal verde” das reformas para entrar no Brasil, embora muitos já tenham começado a fazer alocações. Em termos comparativos, Bitencourt vê o Brasil com um cenário mais favorável que o de emergentes como Rússia e Índia. “Nós somos muito bem regulados do ponto de vista de mercado. O Brasil tem um mercado dinâmico, e a CVM e o Banco Central são atuantes. Nesse ponto, a legislação é muito mais parecida com a dos EUA.”

Oportunidades setoriais

Com forte atuação em casos de ativos sob estresse financeiro, Bitencourt comenta que o cenário de pandemia abriu oportunidades em diferentes setores, mas sobretudo no aéreo. Segundo ele, o volume de empréstimos-ponte ou compras de debêntures feitos por grandes fundos junto a aéreas em todo o mundo mostra esse interesse. Latam e Azul recorreram a instrumentos do tipo desde o início da crise, com forte alocação de fundos internacionais.

“Quando a pandemia se resolver, os voos voltam, mas as operações pararam. E isso tem custo: você precisa reduzir pessoal, depois recontratar, tem um impacto trabalhista”, diz ele. Nesse sentido, as alocações do fundos são boas para ambos os lados. “A grande maioria é debênture, mas tem operações de dívida conversível, com prêmio. E quando a companhia está na bacia das almas, é muito melhor receber dinheiro dessa forma do que pedir recuperação judicial.”

No entanto, algumas das oportunidades mais visadas pelos estrangeiros em termos de alocação direta estão nos setores de óleo e gás, segundo ele. Bitencourt comenta que um de seus clientes montou uma tese completa de investimentos com base apenas nas vendas de ativos que a Petrobras está fazendo. “Várias companhias estão crescendo com isso, mas não só elas. As companhias lapidam o ativo e movimentam a economia local, trazem prestadores de serviço para aqueles locais.

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