Declarações e Compromissos – 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas de Mudanças Climáticas
Por Ana Paula Chagas
A COP27 dura 14 dias, e, além das negociações oficiais, acontecem de maneira paralela diversos eventos organizados pelas delegações, sociedade civil e organizações não-governamentais, os chamados observadores. E é nesse cenário que muitos atores fazem anúncios e assumem compromissos aproveitando os holofotes que a Conferência gera.
Nessa 3ª parte do nosso relato da Conferência, destacamos essas declarações e compromissos que merecem a atenção do mercado nacional.
BNDES
O BNDES anunciou diversas ações já adotadas e medidas que serão implementadas, fazendo com que o Banco de Desenvolvimento seja um fomentador da economia verde. Aumento da carteira de linked loans ESG, linhas de financiamento para concessões de ativos ambientais, criação de linhas de blended finance para integrar doação e investimento na floresta, empréstimos e projetos que terão contabilização bottom-up de carbono por operação são algumas das medidas anunciadas. Além disso, o Banco também comunicou que pretende atingir a neutralidade em carbono até 2050, em todas as suas operações, e para isso, definiu seis metas: neutralização das emissões nos escopos 1 e 2, e as relacionadas a viagens a negócios e deslocamentos de funcionários (casa-trabalho) a partir de 2025, finalização do inventário das emissões financiadas do escopo 3 para as demais carteiras do BNDES, definição em 2023 de metas de neutralidade para as carteiras de crédito direto, indireto e de renda variável, definição em 2023 de metas de engajamento para acelerar a transição dos seus clientes para a neutralidade em carbono, incorporação em 2023 da contabilização de carbono nos processos de aprovação de apoio a novos projetos.
Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C
As maiores empresas de alimentos do mundo, dentre elas ADM, Bunge, Cargil, JBS e Mafrig, que assinaram durante a COP26 o compromisso de desenvolver um roteiro para reduzir as suas emissões a partir da mudança do uso da terra, apresentaram, durante a COP27, o documento intitulado Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C. O roteiro tem como objetivo proteger os sistemas alimentares, tendo como foco as produções de óleo de palma, soja e pecuária, e é fundamentado em três pilares: 1) acelerar a ação da cadeia de fornecedores para reduzir as emissões a partir da mudança do uso da terra; 2) impulsionar a transformação de commodities; e, 3) apoiar uma transformação positiva do setor de florestas.
Roteiro anti-greenwashing para compromissos net-zero
Por encomenda da ONU, um grupo de 17 especialistas em meio ambiente e finanças analisou compromissos e declarações de net-zero feitos por empresas, instituições financeiras e governos subnacionais.
A partir dessa análise, e com o objetivo de se evitar o greenwashing que ronda esses compromissos e declarações, foram formuladas dez recomendações principais com padrões e critérios claros que devem ser seguidos ao se desenvolver compromissos net-zero. Esse roteiro é intitulado “Integridade importa: compromissos net-zero por empresas, instituições financeiras, cidades e regiões”.
Carta dos Governadores da Amazônia
O Consórcio dos Estados da Amazônia, presente na COP27, divulgou carta reconhecendo que o modelo de exploração da região não conseguiu reduzir a desigualdade entre seus 30 milhões de habitantes, e querem estruturas mais eficazes para parcerias com a comunidade internacional e uma nova cooperação entre os Estados da região e o governo federal.
Estudo conclui que Brasil tem potencial para se tornar o primeiro país a alcançar a neutralidade de carbono
O estudo intitulado “The Amazon’s Marathon: Brazil to lead a low-carbon economy from the Amazon to the world” foi conduzido por uma consultoria com organizações multilaterais, setor privado, cientistas e comunidades originárias, e concluiu não só que o Brasil tem potencial para se tornar o primeiro país a alcançar a neutralidade climática, como isso pode acelerar o seu crescimento econômico nos próximos 8 anos.
A neutralidade climática pode aumentar o crescimento econômico do país em 100 a 150 bilhões de dólares anuais ao PIB, fazendo com que o Brasil seja um exemplo de prosperidade econômica sustentável.
De acordo com o estudo, são necessárias 11 ações para que o país caminhe nesse sentido: valorizar a floresta em pé, promover a agricultura sustentável, descarbonizar o setor de energia, promover tecnologia e inovação, desenvolver a mão de obra dos trabalhos para atividades de tecnologia verde, garantir o bem-estar e a resiliência do povo amazônico, fornecer às comunidades da Amazônia as ferramentas para construir uma bioeconomia próspera, resguardar o conhecimento ancestral, restabelecer o Estado de Direito e fortalecer as instituições responsáveis, desenvolver a infraestrutura e promover a cooperação dos stakeholders.
Artigos citados:
Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C
Roteiro anti-greenwashing para compromissos net-zero
“The Amazon’s Marathon: Brazil to lead a low-carbon economy from the Amazon to the world”
Confira os demais artigos elaborados pela Ana Paula Chagas sobre a COP27:
- Destaques da 1ª Semana da 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas de Mudanças Climáticas
- Destaques e resultados da 2ª Semana da 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas de Mudanças Climáticas
- Declarações e Compromissos – 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas de Mudanças Climáticas
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